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12 de jun. de 2011

A química do beijo




A química do beijo e da atração sexual vem sendo estudada há décadas e, em alguns aspectos, ainda é repleta de mistérios.

Beijo de amigo, beijo selinho, beijo comportado, beijo romântico, beijo sensual, beijo de lado, beijo roda-gigante, beijo aspirador de pó, beijo roubado, beijo devolvido, beijo com pressa, beijo sem pressa, beijo tântrico ... Quantos tipos de beijo você conhece? Provavelmente todos.

A diferente “nomenclatura” depende apenas da sua geração, da cultura de seu país e de querer, enfim, dar “nome aos bois”.
Por exemplo, os romanos classificavam ou nomeavam os beijos em apenas três tipos: o basium, trocado entre conhecidos; o osculum, dado apenas em amigos íntimos; e o suavium, que era o beijo dos amantes.

No encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), realizado de 12 a 16 de fevereiro de 2009, um dos simpósios foi dedicado à “Ciência do Beijo” e, entre outros assuntos, foram discutidos a química do beijo e de prováveis feromônios de atração sexual humana.

A antropóloga Helen Fischer da Universidade de Rutgers em Nova Jérsei (EUA) conta que, assim como os chipanzés, 90 % das sociedades humanas praticam o beijo e acredita-se que o ato de beijar oferece uma vantagem evolutiva.
Segundo matéria de Chip Walter para a revista Scientific American de Janeiro de 2008 (Affairs of the Lips: Why We Kiss), o beijo desencadeia uma cascata de eventos químicos que transmitem sensações táteis, estímulos sexuais, sentimento de proximidade, motivação e euforia.
Para Fischer, o homem prefere os beijos molhados e com a língua em ação, permitindo a transferência de maior quantidade de testosterona à mulher.Testosterona, todos já sabem, aumenta a libido - consequentemente melhora o humor - feminina. O “beijo de língua” também permitiria que os homens percebam, inconscientemente, se a mulher está em sua fase menstrual.
Testosterona
Mas se é no “beijo molhado” que substâncias químicas são trocadas através da saliva, para os casais essa troca pode significar o fim do relacionamento ou o início de uma relação duradoura, até que o último beijo (ou a falta de) os separe.

Experiências, no mínimo interessantes, vêm sendo conduzidas por Wendy L. Hill e seus colaboradores no Centro de Saúde do Estudante do Lafayette College e foram descritas por Tina H. Saey em sua matéria para a Science News de 13 de fevereiro de 2009 (“Kissing Chemistry”).

Segundo a Profa. Hill, ainda não foi comprovado, ao menos cientificamente, que passar no teste do primeiro beijo significa passar no teste químico. Seu grupo fez uma experiência com 15 casais heterossexuais (com diferentes tempos de relacionamento) em que a saliva e o sangue de cada voluntário foram analisados antes e depois do “experimento”. Nas amostras de saliva mediu-se o cortisol (hormônio do estresse) e no sangue os níveis de oxitocina, peptídeo neurotransmissor, também conhecido pela internet como o hormônio do amor.

A despeito do número reduzido de casais voluntários e do “estranho” experimento, alguns resultados interessantes foram obtidos e se tornaram “notícia” em diversos jornais.

A oxitocina possui um papel importante nas relações humanas, tais como: confiança e percepção emocional. Como a confiança é indispensável nas relações de amizade, relações familiares e quaisquer tipos de interações humanas, há diversos estudos relacionando-a não só com o “amor”, mas também com mudanças econômicas e políticas na sociedade (Kosfeld et al., 2005; Unkelbach & Guastella, 2008).


Pediu-se que, durante 15 minutos, os casais: grupo a) se beijassem; ou grupo b) dessem as mãos e conversassem. Após esse tempo recolheu-se novamente a saliva e o sangue dos voluntários.

No início da experiência as mulheres apresentaram níveis maiores de oxitocina do que os homens, sendo que os níveis foram ainda maiores para aquelas que usavam pílulas anticoncepcionais. Após o beijo o nível de oxitocina nos homens aumentou, mas nas mulheres diminuiu. Esse resultado foi, para Hill, inesperado e inexplicável.

Aqueles que se deram as mãos mostraram resultados similares apesar da diferença de níveis de oxitoxicina ser menor.
O nível do hormônio do estresse diminuiu nos dois grupos e em ambos os sexos, com queda mais acentuada naqueles que se beijaram.
Hill e seus colaboradores especulam que o “inesperado” nível de oxitocina nas mulheres pode ter sido afetado pelo ambiente em que a experiência foi realizada. Os próximos experimentos serão realizados à luz de velas, ao som de jazz e outros cenários mais românticos na tentativa de descobrir qual seria a influência do ambiente nas mulheres.
Beijar é bom, mas várias doenças podem ser transmitidas pela saliva: mononucleose infecciosa (febre do beijo), cáries dentárias, candidíase bucal (sapinho), herpes e tuberculose. Outras doenças, como hepatite e doenças sexualmente transmissíveis (e.g. HPV, gonorréina, sífilis), causam contaminação pela via bucal com pouca frequência e devem ser levadas em consideração, principalmente, quando existem lesões ou sangramentos gengivais.
Na entrevista para a matéria de Julie Steenhuysen da agência Reuters (“Kissing: It really is all about chemistry”) de 14 de fevereiro, fica claro que Fisher possui uma abordagem diferente em seus experimentos, visto que utiliza imagens do cérebro (Imagem Funcional por Ressonância Magnética).
O beijo pode acessar três dos principais sistemas cerebrais usados no acasalamento e reprodução: a atração sexual, principalmente relacionada à testosterona; o amor romântico ou apaixonado, que motiva as pessoas a manterem a atenção em seu parceiro; e, por último, aquele que mantém a união durante o tempo suficiente para criarem seus filhos.

A serotonina é outro neurotransmissor envolvido no amor e no desejo sexual. O consumo de antidepressivos inibidores da sua recaptação (ISRS) reduz os sentimentos do amor romântico e o desejo sexual.
Ao fazer sexo, os níveis de dopamina no cérebro aumentam levando os casais até a fronteira da paixão. Com o orgasmo, os casais são surpreendidos com uma avalanche de oxitocina e vasopressina - dando-lhes sentimentos de apego.
O beijo, diz Fisher, é apenas a ponta do iceberg do ritual químico da “corte” humana e o mesmo ativaria a produção de diferentes substâncias responsáveis pelos estímulos nas três regiões do cérebro.
Independente de comprovações científicas, beijar faz bem ao corpo e ao espírito. Beijo no rosto, beijo de selinho, primeiro beijo, beijo apaixonado. Beijar é muito bom, e apesar de todos os benefícios e mecanismos químicos do “beijo” ainda não terem sido comprovados cientificamente, alguns cuidados devem ser tomados já que, comprovadamente, certas doenças são transmitidas pela saliva (ver quadro).

Talvez aquele “alerta” inexplicável que nos diz para não “beijar de língua” ou não beijar novamente também seja um “alerta químico” passado ao nosso cérebro e que ainda é desconhecido pela ciência.
Fonte: SBQ - Rio de Janeiro


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